terça-feira, 5 de novembro de 2013

Espólio Sangrento


Espólio Sangrento

( Draculea )

1444 – Terras turcas

- Aqui está à prova da minha lealdade, Mehmed II. – A voz daquele homem era rouca e baixa, contudo não demonstrava arrependimento nem parecia hesitar. A frente do homem alto de longos cabelos escuros havia duas crianças. A mais velha parecia ter seus 13 anos; Pele alva, cabelos escuros e nariz fino e pontudo. Diferente do mais novo que estava chorando ele mantinha uma expressão fria, contida. Com certeza queria gritar, implorar para que aquilo não acontecesse, mas desde novo, seu orgulho já era grande.

- Como eu esperava! – Disse o Sultão á frente do homem observando as duas crianças. O mais novo segurava a mão do outro, choramingando. Este tinha cabelos negros iguais ao outro, contudo eram curtos enquanto a do mais velho chegava aos ombros. – O pequeno Radu e Vlad Tepes III, seus dois filhos mais novos. Sendo assim, considere Valáquia sua. Mas lembre-se Vlad Tepes Dracul, qualquer deslize e seus filhos serão mortos! – O gordo Sultão estendeu a mão para as duas crianças, fitando Vlad Tepes II, esperando que ele entregasse seus filhos. Atrás de Mehmed II havia mais de duzentos soldados Turcos, fazendo a escolta do seu soberano. Tepes II deu um empurrão nas costas do seu filho mais velho, incentivando-o a prosseguir. Viu que seu filho hesitou então murmurou.

- Vá meu filho! Pense em sua mãe, em Marcea seu irmão mais velho.

O pequeno Tepes olhou para trás, encarando-o friamente. Um olhar tão frio que fez seu pai sentir uma espécie de frio percorrer sua espinha. Os olhos negros agora passaram a rodear por todos os lados e tudo que via era mata fechada.

- Nem pense nisso pequeno Vlad! Acredito que não quer uma flecha enterrada no pescoço do seu irmão, quer? – A voz sinistra do Sultão acordou o garoto de seu devaneio, fazendo-o voltar para a realidade. Queria escapar, como queria isso, mesmo que custasse a vida de seu irmão, não se importava muito. Mas qual seria a certeza que conseguiria ir muito longe? Não adiantaria nada se morresse também. Terei oportunidades, sim, esperarei e irei conseguir. Pensou o garoto enquanto começou a caminhar pela estrada de terra em direção dos Turcos, sem olhar para trás, sem qualquer tipo de despedida de seu pai, puxando consigo seu irmão mais novo que não parava de chorar. Caminhou paulatinamente enquanto encarava com olhos furiosos o Sultão, olhos tão negros quanto aquela noite sem lua. A noite taciturna era gélida, contudo agradável. A brisa tênue batia em seu rosto, fazendo seus cabelos dançarem conforme o vento. As crianças passaram por Mehmed e hesitaram quando vislumbraram uma espécie de carroça real. A mesma era banhada de ouro nas laterais e seu cavaleiro junto com o cavalo trajavam armaduras de prata. Um dos soldados correu em direção da porta, abrindo-a para as crianças reféns. Vlad continuou caminhando, subindo os degraus da carruagem. Naquele momento um uivo ecoou por toda a floresta, matando os mais medrosos de susto e deixando os mais corajosos em alerta. Vlad Tepes III olhou para trás em direção da mata, não sabia a língua dos lobos mais entendeu aquele uivo, aquele timbre de dor e solidão. Naquele momento, em toda sua curta vida encontrou alguém que realmente pudesse entendê-lo, talvez, a primeira criatura com quem realmente queria estar por perto.

- Vamos pequeno Vlad, não temos a noite toda! – Sussurrou o Sultão empurrando ambas as crianças para dentro do veiculo. Vlad entrou sem hesitar, pensando como seria agradável a companhia daquela criatura da noite.




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