Espólio
Sangrento
(
Draculea
)
1444
– Terras turcas
-
Aqui está à prova da minha lealdade, Mehmed II. – A voz daquele
homem era rouca e baixa, contudo não demonstrava arrependimento nem
parecia hesitar. A frente do homem alto de
longos cabelos escuros havia duas crianças. A mais velha parecia ter
seus 13 anos; Pele alva, cabelos escuros e nariz fino e pontudo.
Diferente do mais novo que estava chorando ele mantinha uma expressão
fria, contida. Com certeza queria gritar, implorar para que aquilo
não acontecesse, mas desde novo, seu orgulho já era grande.
-
Como eu esperava! – Disse o Sultão á frente do homem observando
as duas crianças. O mais novo segurava a mão do outro,
choramingando. Este tinha cabelos negros iguais ao outro, contudo
eram curtos enquanto a do mais velho chegava aos ombros. – O
pequeno Radu e Vlad Tepes III, seus dois filhos mais novos. Sendo
assim, considere Valáquia sua. Mas lembre-se Vlad Tepes Dracul,
qualquer deslize e seus filhos serão mortos! – O gordo Sultão
estendeu a mão para as duas crianças, fitando Vlad Tepes II,
esperando que ele entregasse seus filhos. Atrás de Mehmed II havia
mais de duzentos soldados Turcos, fazendo a escolta do seu soberano.
Tepes II deu um empurrão nas costas do seu filho mais velho,
incentivando-o a prosseguir. Viu que seu filho hesitou então
murmurou.
-
Vá meu filho! Pense em sua mãe, em Marcea seu irmão mais velho.
O
pequeno Tepes olhou para trás, encarando-o friamente. Um olhar tão
frio que fez seu pai sentir uma espécie de frio percorrer sua
espinha. Os olhos negros agora passaram a rodear por todos os lados e
tudo que via era mata fechada.
-
Nem pense nisso pequeno Vlad! Acredito que não quer uma flecha
enterrada no pescoço do seu irmão, quer? – A voz sinistra do
Sultão acordou o garoto de seu devaneio, fazendo-o voltar para a
realidade. Queria escapar, como queria isso, mesmo que custasse a
vida de seu irmão, não se importava muito. Mas qual seria a certeza
que conseguiria ir muito longe? Não adiantaria nada se morresse
também. Terei
oportunidades, sim, esperarei e irei conseguir. Pensou
o garoto enquanto começou a caminhar pela estrada de terra em
direção dos Turcos, sem olhar para trás, sem qualquer tipo de
despedida de seu pai, puxando consigo seu irmão mais novo que não
parava de chorar. Caminhou paulatinamente enquanto encarava com olhos
furiosos o Sultão, olhos tão negros quanto aquela noite sem lua. A
noite taciturna era gélida, contudo agradável. A brisa tênue batia
em seu rosto, fazendo seus cabelos dançarem conforme o vento. As
crianças passaram por Mehmed e hesitaram quando vislumbraram uma
espécie de carroça real. A mesma era banhada de ouro nas laterais e
seu cavaleiro junto com o cavalo trajavam armaduras de prata. Um dos
soldados correu em direção da porta, abrindo-a para as crianças
reféns. Vlad continuou caminhando, subindo os degraus da carruagem.
Naquele momento um uivo ecoou por toda a floresta, matando os mais
medrosos de susto e deixando os mais corajosos em alerta. Vlad Tepes
III olhou para trás em direção da mata, não sabia a língua dos
lobos mais entendeu aquele uivo, aquele timbre de dor e solidão.
Naquele momento, em toda sua curta vida encontrou alguém que
realmente pudesse entendê-lo, talvez, a primeira criatura com quem
realmente queria estar por perto.
-
Vamos pequeno Vlad, não temos a noite toda! – Sussurrou o Sultão
empurrando ambas as crianças para dentro do veiculo. Vlad entrou sem
hesitar, pensando como seria agradável a companhia daquela criatura
da noite.
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